
Controle de ruído é muito discutido no meio empresarial devido as consequências que podem geradas tanto para a produtividade e qualidade de vida dos trabalhadores, a seguir iremos dissertar sobre os principais aspectos do ruído como: definição, anatomia do aparelho auditivo, efeitos, monitoramento (dosimetria de ruído) e os principais meios de controle do ruído.
O RUÍDO
Define-se ruído, como sendo um som sem interesse ou desagradável para o auditor. O ruído (som) pode ser mais ou menos intenso, composto por uma só tonalidade ou composto por várias e a sua propagação varia consoante o meio em que o receptor se encontra (disponível em: https://www.ccdr-a.gov.pt/docs/ambiente/Doc_ruido.pdf). Para Bistafa (2011) o ruído é um som indesejável, em geral de conotação negativa. São vibrações das partículas do ar que se propagam a partir de estruturas vibrantes. Já para Santos e Santos (2000) Som ou ruído é o nome dado a qualquer vibração que ocorre em um meio elástico, geralmente o ar, que é capaz de ser percebido pelo ouvido humano. De maneira geral reserva-se o nome de ruído aos sons desagradáveis, indesejáveis e de som à uma sensação prazerosa, desejada, como a produzida pela música. Entretanto, é preciso ter claro que, seja prazeroso ou não, se estiver elevado, som ou ruído podem provocar danos à audição.
ANATOMIA DA ORELHA
O ser humano utiliza o som, em conjunto com outros tipos de estímulos, proveniente do ambiente para perceber o mundo à sua volta, o que faz com que emoções e sentimentos sejam despertados. A audição é, dentre todos os sentidos humanos, o primeiro a ter o desenvolvimento completo em termos de origem. O seu funcionamento tem início por volta das 16 semanas de gestação, quando já é possível o feto responder a estímulos provenientes do corpo materno e do ambiente externo. Esses estímulos são mecânicos, por meio de ondas sonoras as estruturas que compõem o sistema auditivo captam, transformam e transmitem ao córtex cerebral, onde serão interpretados e armazenados. O processo da audição ocorre em duas etapas: o mecânico, que acontece na orelha externa e média, e o mecânico/elétrico, que decorre na orelha interna. O sistema auditivo é dividido em três partes descritas abaixo (disponível em https://www.infoescola.com/anatomia-humana/audicao/):
- Orelha externa – constituída pelo pavilhão auricular e o canal auditivo;
- Orelha média – membrana timpânica e cadeia de ossículos;
- Orelha interna – cóclea, sistema vestibular e nervo auditivo.
Figura 01 – Anatomia da Orelha
EFEITOS DO RUÍDO
Segundo Carmo (1999) o ruído afeta o organismo humano de várias maneiras, causa prejuízos não só ao funcionamento do sistema auditivo como o comprometimento da atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto.
Um estudo sobre a poluição sonora publicado no British Medical Bulletin, confirmou alguns sintomas graves e crônicos, como (disponível em: https://prolifeengenharia.com.br/efeito-do-ruido-no-corpo/):
- Hipertensão;
- Capacidade reduzida de aprender;
- Falta de produtividade;
- Doença cardíaca;
- Diminuição ou perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR).
PERDA AUDITIVA INDUZIDA PELO RUÍDO
Esse tipo de perda auditiva é provocado pela exposição prolongada a altos níveis de ruídos. Ela é frequente em pessoas que trabalham com grande exposição a barulhos. Quando somos expostos por um longo tempo a esses barulhos intensos, estamos correndo o risco de sofrer danos ao sistema auditivo. Esses danos surgem de forma gradativa e tornam-se piores com os anos, se a proteção apropriada não for tomada. O problema pode ser imediato ou demorar anos para ser notado, e a exposição ao ruído prejudicial acontece em qualquer idade, incluindo adolescentes, crianças, adultos e idosos. Algumas medidas precisam ser tomadas para que possamos evitar o problema, como o uso de protetores auriculares, o cuidado com o volume dos fones de ouvido e televisão, e o estabelecimento de um tempo máximo para exposição a sons mais altos. Veja a seguir as principais causas dessa condição. (disponível em: https://comunicareaparelhosauditivos.com/perda-auditiva-ruido/)
Seligman (1994), caracteriza a PAIR como perda auditiva sempre neurossensorial, irreversível e quase sempre similar bilateralmente, que raramente leva à perda auditiva profunda pois, geralmente, não ultrapassa os 40 dB nas baixas frequências e os 75 dB nas altas frequências, manifestando-se primeira e predominantemente, nas frequências de 3, 4 e 6 kHz e com o agravamento da lesão estendendo-se às frequências de 8; 2; 1; 0,5 e 0,25 kHz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas. O portador de PAIR pode apresentar intolerância a sons intensos, zumbidos, além de comprometimento da inteligibilidade da fala, com prejuízo no processo da comunicação. Não deverá haver progressão da PAIR uma vez cessada a exposição ao ruído intenso. A PAIR geralmente atinge o seu nível máximo para as frequências de 3, 4 e 6 kHz nos primeiros 10 a 15 anos de exposição sob condições estáveis de ruído. (disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72992002000100008)
Os sintomas da perda auditiva por ruído não surgem de uma hora para outra. Eles vão aparecendo com o tempo e, por isso, nem sempre são analisados com a devida importância. Apenas quando o problema já está em um nível avançado é que as pessoas tendem a buscar tratamento. Só que, nesses casos, não há mais como reverter o quadro.
Sendo assim, caso você fique exposto a volumes altos de forma recorrente, esteja atento ao aparecimento dos seguintes sinais (disponível em: https://menthel.com.br/o-que-e-a-perda-auditiva-induzida-por-ruido-a-chamada-pair/):
- zumbido;
- dificuldade para compreender o que as pessoas falam;
- dores de cabeça constantes;
- tontura;
- irritabilidade;
- queixas recorrentes sobre sons intensos;
- dificuldade para escutar.
MONITORAMENTO DO RUÍDO
O monitoramento ou avaliação do ruído deve ser realizado conforme exigência das normas em vigência (para maiores informações acesso o post disponível em: https://gnially.com.br/avaliacao-ruido-dosimetria/).
Para realizar a avaliação de ruído é necessário segundo a NHO 01 da Fundacentro é realizar a dosimetria de ruído com a utilização de medidores integradores de uso pessoal, também denominados de dosimetros de ruído (para maiores informações acesso o post disponível em: https://gnially.com.br/dosimetro-de-ruido/), a serem utilizados na avaliação da exposição ocupacional ao ruído devem atender às especificações constantes da Norma ANSI S1.25-1991 ou de suas futuras revisões, ter classificação mínima do tipo 2 e estar ajustados de forma a atender aos seguintes parâmetros:
- circuito de ponderação – “A”;
- circuito de resposta – lenta (slow);
- critério de referência – 85 dB(A), que corresponde a dose de 100% para uma exposição de 8 horas;
- nível limiar de integração – 80 dB(A);
- faixa de medição mínima – 80 a 115 dB(A);
- incremento de duplicação de dose = 3 ( NHO 01) ou 5 (Anexo 1 da NR 15);
- indicação da ocorrência de níveis superiores a 115 dB(A).
Para realizar a avaliação de ruído ou dosimetria de ruído deverá ser seguido as etapas a seguir:
- realizar os ajustes preliminares no equipamento e sua calibração, com base nas instruções do manual de operação e nos parâmetros especificados anteriormente;
- Coloque o medidor no trabalhador a ser avaliado e fixe o microfone dentro da zona auditiva;
- Posicione e fixe qualquer excesso de cabo de microfone para evitar qualquer dificuldade ou inconveniente ao usuário;
- Adote as medidas necessárias para impedir que o usuário, ou outra pessoa, possa fazer alterações na programação do equipamento, comprometendo os resultados obtidos;
- Inicie o processo de integração somente após o microfone estar devidamente ajustado e fixado no trabalhador;
- Cheque o dosimetro periodicamente, durante a avaliação, para se assegurar de que o microfone está adequadamente posicionado e que o equipamento está em condições normais de operação;
- Retire o microfone do trabalhador somente após a interrupção da medição;
- Determine e registre o tempo efetivo de medição, sempre que a medição não cobrir a jornada integral de trabalho;
- Quando a medição não cobrir toda a jornada de trabalho, a dose determinada para o período medido deve ser projetada para a jornada diária efetiva de trabalho, determinando-se a dose diária.
CONTROLE DO RUÍDO
Segundo Bistafa (2011) o controle de ruído é uma tecnologia multidisciplinar que visa obter nível de aceitável em determinado ambiente, consistente com os aspectos econômicos, operacionais, legais, médicos, psicológicos e culturais. O controle de ruído pode ser realizado através:
- Controle de ruído na fonte;
- Controle de ruído na trajetória;
- Controle de ruído no receptor.
CONTROLE DE RUÍDO NA FONTE
Segundo Bistafa (2011) controle de ruído na fonte consiste em introduzir modificações que alteram o processo de geração de ruído de determinada máquina. Para que a modificações possam ser sugeridas, deve-se em primeiro lugar entender como o som é produzido. Uma vez compreendidos os mecanismos básicos de geração de ruído, é uma tarefa relativamente simples propor modificações que reduzam os níveis sonoros na fonte.
CONTROLE DE RUÍDO NA TRAJETÓRIA
Segundo Bistafa (2011) a atuação junto à trajetória de transmissão é considerada a segunda linha de defesa no controle de ruído. Como normalmente problemas de ruído não são antecipados na fase de projeto, resta ao responsável pelo controle do ruído atuar na trajetória de transmissão. Os seguintes métodos são frequentemente empregados para minimizar a transmissão sonora entre a fonte e o receptor:
- aumentar a distância entre a fonte e o receptor;
- isolar as máquinas barulhentas por meio de enclausuramento;
- utilizar silenciadores em linhas;
- tratar as superfícies do recinto com materiais fonoabsorventes;
- segregar as áreas barulhentas por meio de partições.
CONTROLE DE RUÍDO NO RECEPTOR
Segundo Bistafa (2011) nos ambientes de trabalho, a proteção individual é a última linha de defesa na redução dos níveis de ruído que chegam até a orelha. A proteção individual consiste no uso, por parte dos trabalhadores expostos ao ruído, de protetores auriculares.
- Protetor Auricular Plug
- Protetor Auricular Espuma
- Protetor Auricular Concha
Figura 02 – Modelos de Protetores Auriculares
REFERÊNCIAS
CARMO, L. I. C. Efeitos do Ruído Ambiental no Organismo Humano e suas Manifestações Auditivas. Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica: Goiânia, 1999.
BISTAFA, S. R. Acústica Aplicada ao Controle do Ruído. 2ª Edição. São Paulo: Blucher, 2011.
SELIGMAN, J. Perda auditiva induzida pelo ruído relacionada ao trabalho. ACTA AWHO, 13:126-7, 1994.